Artigo
“A Douta Ignorância”: os nomes do Deus
Por Paulo Rosa - Caps Porto, Ambulatório Saúde Mental, Hospital Espírita, Telemedicina PM Pelotas
Dos aspectos interessantes do texto de 1440, de Nicolau de Cusa, um é o empenho que faz o cardeal, matemático e filósofo para encontrar palavras, essas humanas e precárias, que possam aproximar-se da dimensão do inominável Deus.
A obra de de Cusa ganhou, recentemente, renovados estudos mundo afora quando em 2001 comemoraram-se os 600 anos de nascimento do autor, 1401-1464. Nesse rastro retomaram-se algumas destas questões nominativas. Na Introdução, elaborada pelo tradutor português João Maria André, ele diz: “abordando... o nome de Deus no quadro da teologia afirmativa, os nomes atribuídos pelos gentios a Deus [e comparando com] a teologia negativa, constituem um bom epílogo para a reflexão sobre o Máximo” (pág. 28, Introdução). Em termos afirmativos, o próprio Nicolau de Cusa (pág. 62ss) observa que “os gentios” vêm “adorando Deus como uno e trino, como sapientíssimo, piíssimo, luz inacessível, vida, verdade”, mas o cardeal contrapõe-se a essa forma mais antropomórfica de concepção divina, ressaltando que “a sagrada ignorância ensinou-nos que Deus é inefável; e isto porque é infinitamente maior do que tudo o que se possa nomear; e porque isto é sumamente verdadeiro, dele falarmos de modo mais verdadeiro por remoção e negação, tal como o tão grande Dionísio quis que não fosse nem verdade, nem intelecto, nem luz, nem nenhuma dessas coisas que se podem exprimir com palavras”.
Em sequência o cardeal ensaia diferentes nominações que poderiam esboçar o sentido do Deus: “coincidência dos opostos”, o “Próprio Poder” ou o “Poder-ele-Próprio”, o “Máximo absoluto”, assim como refere que “as coisas visíveis são imagens do invisível”, ou, em um de seus sermões: “tudo o que é é a partir do belo e do bom, no belo e no bom e ao belo e o bom retorna”, ou, “aquele cujo nome é infinito é aquele que pode ser chamado com todos os nomes, sem ter, como nome preciso, nenhum desses nomes”, ou ainda, “o Máximo… sendo tudo o que pode ser, é completamente em ato”, ou, mais adiante, pág. 68ss, “porque nenhum homem é como outro no que quer que seja, nem nos sentidos, nem na imaginação, nem no intelecto, nem na ação, com a escrita, a pintura ou a arte, e ainda que procurasse em mil anos imitar outro no que quer que seja, nunca atingiria a precisão, apesar de a diferença sensível nem sempre ser percebida. Também a arte imita a natureza quanto pode, mas nunca poderá chegar à sua precisão. Por isso, a medicina, a alquimia, a magia e outras artes da transmutação carecem da precisão da verdade, embora uma seja mais verdadeira em comparação com outra, como a medicina é mais verdadeira que as artes da transmutação, coisa que é por si evidente”.
Agora finalizando, Nicolau de Cusa superou-se em clareza, síntese e capacidade sugestiva ao formular “a silenciosa força do possível”, a mais bela e justa de suas ideias sobre a divindade.
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